07/03/2013

I








Dear Angel,

I don't know how to say this. Sincerely, I'm ashamed of myself. It fucking sucks writting for someone, specially when that "someone" is dead. My writting skills are shit, I can't write anything good.
Well, at least, I know how to breathe.
Unfortunately.
I had enough. I'm shocking on my own words like I have something around my neck. Something that doesn't let me breathe. I don't want to live anymore. I just want to sleep. I don't know what you think about my misery. I'm whining, I know. I'm sorry, I'm just so confused, so lost, so alone, so dark. And I think I'm not able to live with that.
Are you still breathing? Wake up, listen to my voice and wake up. Come back. Legends never die, you're just on tour, singing and travelling around the world. You're breathing. I'm pretty sure of that. You're hiding. And when we think you'd never come back, you just jump to the stage and scream "Hey motherfuckers, did you miss me?" I'm pretty sure you're gonna wake up. And then you'll smile and laugh. That's what Mitch does.
It hurts breathing. It hurts being here. It hurts seeing people laughing. I mean, you're dead and some people don't give a fuck about it! People who don't know how much important you are.
The first month will always be a sad day for me, so will the 17th, the 2nd, the 19th, and the 37th. So will the rest of my life.
A hero, an idol, a daddy, a husband, a friend, a son. A legend.  My Mitch.
Let's admit it: I can't do anything to change your death. If I could swap our lifes, I would do it. In a heartbeat, no question.
Your fans, your band mates and all the people who helped you, they were your second family.  And Kenadee? And Jolie? Your parents? Think about your family. Your precious family. The family you love so much. Think about them. Think about them and open your eyes. Hold my hand.
I have to move on. Alone, without you. I'm trying to breathe, but the rope is hurting my neck. My fingers are covered in blood. I'm not scared of dying. I'm already dead. "With every breathe you take you're dying". I'm falling apart. The rope doesn't let me breathe...
I'm sick.
I'm writting letters to a dead guy.
Whatever.
Mitch, I love you. More than I love anything. With all the feeling and all my heart, I love you. Beyond universes, stars and oceans. When I look at the stars, I see how much they shine. They shine for me. Like you shined. The perfect guy. The guy who cared about me.
And, for you, I promise: I won't give up. Never, ever give up. For you, motherfucker, I'll keep fighting.
This is the first letter of many. Wait for the others, please.
I love you with all my heart. Actually, you still have it.
Please, Mitch, come back home - I can't do this on my own.

23/12/2012

do coração I







Gosto de ti. Gosto de ti como gosto de acordar cedo, para ver o nascer do sol; gosto de ti como gosto de beber café com leite e apreciar os primeiros raios de sol que trespassam os meus dedos e fazem sombras nas paredes da minha casa; gosto de ti como gosto de ler um livro muitas e muitas vezes; gosto de ti como gosto de amar o amor; Gosto dos teus olhos verdes, são os olhos mais bonitos do mundo. E que me fazem sorrir - são da cor da menta e da cor da relva regada e acabada de cortar. E gosto da tua alma, tão livre. Que voa. Que vai, e que vem. Como o vento de inverno. Como aquela folha resistente do verão, que, vendo as outras a mudarem as suas bonitas tonalidades para amarelo, laranja e castanho se mantém verde - és a minha folha resistente de outono, e o meu anjo da guarda, que volta sempre e me aquece o coração; que eu não procuro, porque ele volta sempre, com um balão na mão que, quando rebenta, liberta as borboletas das mais diferentes cores, tonalidades e feitios. Gosto de ti como gosto de ir à praia; gosto de ti como gosto do mar, no seu movimento de abraço à areia - ele volta sempre para ela.
Mas hoje, hoje é diferente. Hoje, neva no meu coração. Neva como neva lá fora; mas, não um nevar reluzente, ao qual estou habituada. Este, é um nevar sombrio, pesado, vazio. É um nevar que engole todo o sol existente no meu coração; que faz todas as flores semeadas no solo se recolham, à espera que tempos melhores cheguem. E os pássaros ficam mudos. Calados. Não mais cantam. Não mais ousam aquecer o meu coração com melodias complicadas e agudas, de bons-dias. Limitam-se a cair no chão, com os olhos fechados, com os bicos fechados; com a alma falecida, num silêncio mortal e eterno. O meu coração tornou-se assim, num lugar gélido e sem vida, como se alguém tivesse agarrado numa enorme esponja e tivesse espremido todo o amor existente neste orgão. E assim fiquei, por muito tempo. Entregue às trevas, entregue à dor e aos corredores escuros e sinuosos de uma casa abandonada; assim, fiquei entre quatro muralhas, quatro muralhas pintadas de preto - fiquei presa no meu coração.
Volta - imploro-te. É tarde. Tenho um frasco com pirilampos, bolachas e uma caneca de leite quente à tua espera. Está na hora da tua alma de pássaro voltar para mim e está na hora de aqueceres o meu coração - está na hora de me ensinares a amar, outra vez.  
E, desgastada, cansada, gélida e com uma manta por cima, sentada à janela, a ver a neve, no seu movimento dançante, a abraçar o chão, vou estar aqui sempre, a revestir as paredes do meu coração, com bonitas pétalas de rosas e borboletas, à tua espera. O meu coração é todo teu - eterno, belo, envenenado e gélido. Vou amar-te até à eternidade, até que os pássaros deixem de cantar e as folhas deixem de cair. Vou amar-te até que todo o amor do meu coração escorra pelo peito. Enquanto isso não acontece, aproveita-o, pois ele não dura para sempre, apesar de ser eternamente teu. Por isso, lembra-te:
Hoje, amor, dei-te o meu coração.

12/10/2012

chove, lá fora



Sabes, tenho saudades de ver o teu lindo sorriso estampado nesse teu rosto bonito, com esses olhos verdes e essas maçãs do rosto, rosadas; tenho saudades de ver o teu cabelo comprido a ondular ao vento; tenho saudades de sentir a profundidade do teu olhar, a largura do teu sorriso e o quão castanho é o teu cabelo; tenho saudades de ver a espuma do mar a enrolar-se na areia; tenho saudades de ver as folhas de outono nas suas tonalidades castanhas a cair, tão bonitas; tenho saudades de ver o vento a soprar na minha janela, com força, e tenho saudades de ver a chuva a cair - sobretudo, tenho saudades de ti. De nós. Do que somos, ou, na realidade, do que éramos.
Estou arrepiada : lá fora, chove. Chove mesmo com força. Presumo que as nuvens estejam chateadas e embatam umas nas outras. E, por isso, estejam a chorar. Ou então estão apenas a demonstrar o seu descontentamento em relação à tua partida. Elas têm saudades tuas. Quando te vinham a chegar, lá ao longe, cessavam; logo formavam um belo arco-íris que, se não soubesse o quão duro é o mundo, poderia dizer que, do outro lado desse bonito arco-íris, estaria um duende, sentado em cima de um pote de oiro. Mas eu sei como é o mundo. Sei como é a triste realidade lá fora. Sei que os arco-íris já desapareceram e que os pássaros já não cantam como cantavam. Nem sequer me pousam na mão, como dantes pousavam. Será que eles conseguem sentir uma alma morta, e um coração partido? Será que conseguem sentir que as minhas pernas vão abater a qualquer momento, e que só respiro porque o meu coração continua a bater? Será que eles se afastam da morte? Será que tu tens alma de pássaro, e que te afastaste de mim porque a pressentiste, mais feroz que nunca? 
A tua alma é livre e voa, como bonitos passarinhos. Por falar nisso, nunca mais vi os tais passarinhos. Será que voaram contigo? Tenho medo que tenhas voado para longe.  Que a tua alma tenha voado, para sempre - e que não haja retorno. Mas não sejamos pessimistas porque, afinal, tudo o que vai volta. Mas... E se chegaste ao fim do mundo, desprezando os limites normais da humanidade? E se o mundo não for redondo? E se, por contrário, for quadrado? Tal como o meu coração, neste momento? E se te perdeste em infinitos mares de escuridão, e estradas de saudades - tal e qual como o meu coração? O meu coração, anteriormente bonito, perdido agora, entre véus negros e noites escuras; perdido agora, entre saudades mal curadas - perdido, para sempre. E se te perdeste, meu amor? 
Neste momento, toda eu sou tristeza; toda eu sou nostalgia e toda eu sou enumerações e pontos e vírgulas; na realidade, estou mais perdida que a própria perdição, mais sozinha que a própria solidão e, acima de tudo, por entre mares de sangue, saudade e lágrimas deitada, afogada, mergulhada.  Afinal, isto são tudo nostalgias de uma manhã de chuva. Uma manhã em que a chuva está mais forte do que nunca; uma manhã em que sinto saudades de pronunciar o teu nome; uma manhã em que preciso, desesperadamente, do teu sorriso, perto de mim, como se o pudesse arrancar e trazê-lo sempre comigo; uma manhã em que grito o teu nome pelos muros que construí no meu coração; uma manhã em que gritos por entre paredes dançam, desprezando a dor que o meu coração suporta; uma manhã - oh, uma bela manhã, em que pronuncio o teu nome - uma manhã em que me lembro que, nem sequer, já te lembras do meu. 

02/09/2012

mas acabou.




Culpas o vento.
Dizes que ele levou tudo o que havia em nós. Todas as coisas belas que existiram na nossa vida, na nossa relação. No nosso amor, na nossa amizade. Que não ligava ao ódio, à inveja ou à cobiça. Era natural, apenas querido. Da minha parte, era o amor mais natural que sentira por alguém. O amor mais natural, mais bonito. Os sussurros escritos em cartas, o belo perfume do pergaminho e, essencialmente, o toque. Aquele relevo que eu sentia quando passava o meu dedo branco e sensível pela tua bonita letra; quando podia, com as minhas próprias mãos, sentir as tuas a ondular por aquele pergaminho, num ritmo esfuziante, escrevendo tão bonitas declarações de amor...
O vento sopra. 
As folhas ondulam ao sabor do vento e criam mini-tornados com o lixo que se acumula na floresta. O vento sopra, implacável. Mas está quente, é sufocante. O céu estava nublado e carregado de nuvens - se chovesse, não me admirava. 
Avanço - testa franzida, rugas nos cantos dos olhos, ligeira dor de barriga devido ao nervosismo - para aquela casinha. Lembraste, dos momentos que recordei contigo na nossa casinha de madeira? Onde bebias o teu chá e passávamos a tarde a ler? Lembraste?
E agora, pergunto-me para onde foram parar as declarações de amor. Também se foram, com o vento? Tantas muralhas que criaste no teu coração. E tão poucos soldados que consegui reunir para as deitar abaixo, de vez!
Está tudo como da última vez : velho, triste, escuro, deprimido. Abandonaste este local há anos, mas eu continuo a frequentá-lo. Mas os anos parecem-me séculos. Sinto o teu sangue a derramar pelo chão e os teus gritos a ecoar pelas paredes escuras, agora descascadas pelos ratos. Olho para o armário. Aquele armário.
Onde estão os sussurros, por entre pingos de chuva desaparecidos? Onde estão as belas cartas de amor, por entre mãos e rasgos? Onde está o meu belo coração, por entre labaredas incandescentes desaparecido? E a minha alma, que fugiu com as andorinhas do frio? 
Aquele armário está, agora, completamente destruído. Há uns tempos, estava em perfeitas condições. Hoje, as suas gavetas não têm puxador. A sua cor foi comida pelo tempo e a madeira, comida pelos bichos. Mas mais nada me interessa - o armário deixou de importar, a pintura deixou de importar, a higiene daquele local deixou de importar. Ele não me interessa mais. Este local, nada significa para mim. 
Tenho muita raiva, muita tristeza em mim. Mas sinto-me feliz - irónico, não? - mas consigo sentir. É sinal que estou viva e pronta para outras. É sinal que me podem deitar abaixo enésimas vezes, que eu vou-me levantar outras enésimas. Não faz mal. O tempo passa. Tudo vai, tudo vem. Como uma bela brisa, não é? O tempo cura tudo. Isto não será excepção. Porque a ferida sara, mas a cicatriz, essa, permanece. 
A minha cicatriz não está marcada na pele, nem na cabeça. Não caí da minha trotinete nem me magoei. Muito menos parti a cabeça. A realidade, é que está marcada cá dentro - não no meu coração.  Esse, foi-se. Tão pouco na minha alma, há muito fugida. Mas vai estar sempre marcada na minha memória. E, por mais que eu tente poli-la, por mais que tente raspá-la ou lavá-la, ela não sai. Porque é permanente. E as belas cartas, os belos sussurros, os belos sorrisos, voaram. E doí-me o coração - há muito perdido, mas dói-me. Dói-me, porque sei que, pela enésima vez, estou sozinha. Com a Dor, outra vez. E com o Diabo. Estou tão perdida; não sei onde me encontrar a mim própria, não sei onde fui parar; nem sequer sei onde começo e acabo. Apetece-me chorar rios de tristeza, lágrimas de sangue e desatar ao pranto - infelizmente, não consigo. Sinto um desalento imenso a apoderar-se de mim. Estou, por fim, acabada.
Dou um murro na gaveta e ela, em vez de sair, entra e embate na base do armário. Atiro-a para longe; ela não me interessa. E, finalmente, vejo. A chávena de chá. A bela chávena de chá, de porcelana, com fitinhas azuis desenhadas. A saqueta de chá desapareceu. Pego na chávena. Nunca antes lhe tinha tocado. Só agora me apercebo o quão fina é a sua porcelana e que o tempo não passou por ela, como passou por mim. E lembro-me de quando a chávena estava cheia de Chá Preto. Mas agora, são tudo apenas memórias. Tudo se foi e nunca mais irá voltar.
E, sem hesitar, largo a chávena. E ela espatifa-se contra o chão de madeira, em mil bocados, impossíveis de juntar e voltar a reconstruir. E dirijo-me à porta. Sem olhar para trás, fecho-a - sem hesitar.
Não estou a tentar martirizar-te. Quem sou eu, para fazer juízos de valor? Eu não sou ninguém - sou apenas como um espírito que saiu do seu corpo em busca de melhor vida mas que falhou : continua a vaguear na Terra, à espera do seu juízo final. Sou apenas um rasto da tua memória. Sou apenas uma marca na tua vida, uma marca mais pequena que um sinal, muito mais. Uma marca da qual arrancaste o coração com as unhas, uma memória da qual arrancaste a alma - eu sou apenas mais uma, meu amor. 
Não sinto nada. Não tenho sentimentos, estou triste. Sinto-me à parte, sinto que tenho medo de tudo e de todos e, quando alguém vai falar comigo, encolho-me e afasto-a. Porque eu não aguento mais isto. Não aguento mesmo. Porque me arrancaste tudo, tudo o que eu tinha de bom, e deixaste ficar o mal, que se infiltra como veneno nas minhas veias. Veias, agora, mortas. Tal como tudo o resto em mim. Deixaste-me sozinha, desprotegida, abandonada e entregue a mim própria.  Mas todos deixam, não é? Todos desistem, todos baixam os braços. Mais cedo ou mais tarde, todos se vão. 
Então, meu amor, continuas a achar que a culpa foi do vento?

20/08/2012

Deixei o diabo entrar.



Oh dor, horrível Dor, porque vieste bater à minha porta?!
Não ta vou abrir. Na realidade, vou trancar a porta a 7 chaves, vou correr todos os estores, todas as cortinas, fechar todas as janelas e isolar-me. Isolar-me de ti.
Lembraste das marcas que deixaste da última vez? Magoaste-me a sério. Na realidade, já estava acostumada à tua presença, com o teu capuz preto, todos os dias, atrás de mim - como uma sombra. Até - tenho de ser sincera - te punha um lugar na mesa. Dava-te uma sopa quente e um chocolate quente, para te aconchegar. Porque, nesta realidade aterrorizante, és a minha única companhia. No mal ou no bem, eu encontro-te sempre, sempre que precisar. Seja sentada num banco de jardim, seja no mais frio cemitério, tu estás lá. Para mim, sempre disponível.
Mas, desta vez, empurro a porta com o joelho - pára! Ainda não percebeste? Não quero ter nada a ver contigo, nunca mais. Dissequei todas as minhas forças, deitei todas as lágrimas possíveis e imaginárias, morri a teus braços - já me tens, que queres mais? Queres tomar o resto do meu corpo, ainda hoje inanimado, e sugá-lo até que mais nada exista? Mais nenhum pedaço de alma. Desta vez, não me entrego. Estou demasiado destruída para pensar se estou a fazer algo bom ou mau.
Mas tu tens mais força do que tinhas anteriormente. E nem precisas de usar as mãos. Eu sufoco, grito, choro, arranho-me e volto a gritar, e tento fechar a porta ou, pelo menos, aguentá-la. Mas quando a porta se abre - nem que seja só 1 milímetro - fica aberta para sempre. Sem excepção. E é impossível fechá-la. É como se tivessemos aberto a porta do Inferno - todos os demónios lá contidos se soltam. E, com um breve sorriso, atiraste-me contra a parede, fizeste-me derrubar todos os pratos de porcelana e, sem querer, vi sangue a correr.
Fechaste a porta com uma corrente de ar. Entraste, sorriste, ficaste. Oh Dor, sai! Porquê? Porquê eu? Porque tenho de ser sempre eu? Não entendo. Pensava que éramos amigas. Fieis companheiras, sabes. Para o bem e para o mal, para aguentarmos tudo, lado a lado. Afinal, enganei-me. Engano-me em tudo.
Mas há uma pequena diferença entre isto tudo. Há uma diferença entre soltar demónios e soltar o verdadeiro mal : o diabo. Isso, minha querida, são portas diferentes. Isso, não é a porta das traseiras, a porta pela que a Dor entrou. Não, esta é a porta principal. Aquela por onde toda a gente entra, limpa os pés no tapete, ou encosta as mãos à ombreira e pede para entrar. Minha querida, é diferente.
Mas sabes... afinal, nem é assim tão mau, viver contigo, querida Dor. Afinal, até consegues aguentar-te, dar-me um espaço para ser feliz. Mas depois, lá vens tu, implacável, como o mais forte furacão, destruir a minha vida, por completo. E choro, e grito, e adormeço. E tento, ao máximo, descomprimir. Porque tu, até queres o meu bem. Porque a Dor, neste momento, faz-me sentir bem. Melhor, comigo mesma. Realmente feliz porque eu até gosto da Dor. Está a fazer-me crescer, está a tornar-me, realmente, numa pessoa - uma pessoa que não sucumbe a medos como fantasmas ou precipícios. E a Dor torna-se bonita e torna-se minha amiga. E aprendo a viver com ela porque, na realidade, a vida é feita de barreiras. E, se não conseguirmos ultrapassá-las, só temos de viver com elas. E passaram-se anos. Até um dia.
Dor, peço-te desculpa por ter sucumbido a tudo isto. Por ter aberto a porta ao Diabo. Hoje, sucumbi a toda a dor em meu redor e explodi, por fim. Nunca mais tive a oportunidade de fechar portas, nem abrí-las. Sucumbi, acabei. Tropecei, caí. Nunca mais me levantei.

01/08/2012

a princesa desaparecida

Era uma vez, num reino longínquo, que nunca nenhuma de vós algum dia virá a conhecer, uma princesa. Não há palavras, adjetivos ou qualquer outro tipo de gramática para descrever o quão bonita era a princesa. Não há adjetivos para descrever o quão verdes e profundos eram os seus olhos. Também não há qualquer tipo de adjetivo que nos mostre o quão bonita é a sua pele, o quão frágil e de porcelana é. Mas quero que confiem em mim e nas minhas palavras.
A princesa não vestia ouro, nem rosa, nem azul. A princesa vestia preto, tinha segredos que ninguém imaginava e medos que ninguém alguma vez conseguiria descobrir. E, na princesa, havia uma coisa bastante peculiar : ela gostava de Chá Preto. Gostava do Aroma que dele provinha, gostava do seu sabor, delicado, como ela. Na realidade, este era o único Chá que ela gostava.
Porque estou a usar o Pretérito Imperfeito? Tem uma explicação simples, mas dolorosa, que ainda hoje deixa marcas.
A minha princesa fugiu. Fugiu de mim, para sempre, penso eu. Na realidade, fui eu que a deixei fugir, com o vento. Fui eu que a deixei fugir, como uma brisa de Verão. E a princesa foi com ela, para os dias mais quentes. Pousou a sua bela coroa, feita dos mais bonitos Rubis, no seu grande trono. A coroa ainda lá continua, pousada, por cima da almofada, exatamente no sítio onde ela a deixou, esperando pela sua legítima dona.
Ainda me lembro, da nossa casinha. A casinha, sim, para onde fugíamos, no bosque, quando queríamos algum sossego e paz de espírito. Era uma casinha pequenina, de madeira, caiada a branco e com várias janelas. Não tinha muita mobília - ou quase nenhuma. Era constituída por apenas uma divisão e, nessa divisão, apenas existia um fogão, um armário, um lavatório e uma estante, cheia de livros.
Quando entrávamos, abrias logo o teu armário, ias buscar a tua caneca, que já lá tinha dentro a saqueta de chá - preto, claro. Eu agarrava logo um livro da estante e, como não gostava de Chá, deitava-me no chão de madeira a ler. E tu, depois de preparares o teu Chá fumegante, fazias o mesmo. Inspiravas o seu belo aroma. E ficávamos ali, a ler, a olhar uma para a outra; a rir, a contar piadas - a ser, essencialmente, melhores amigas.
Entro. Lágrimas escorrem pelos meus olhos, olhos vulgares, que nada de bonito têm. Escorrem pela pele da minha cara, queimada pelo sol. E ajoelho-me na velha madeira, da nossa velha casinha. Hoje, as janelas da casinha estão partidas; as suas cortinas, totalmente pretas, apesar de anteriormente terem sido brancas, tal como tu tanto gostavas; o fogão não funcionava e, a estante, essa, há muito tinha apodrecido. Os livros estavam espalhados pelo chão e algumas páginas estavam espalhadas pelo chão e comidas - pelos ratos, apostava. O teu lavatório estava todo sujo e a torneia estava arrancada. E, por fim, o armário.
Como por magia, o teu armário continuava intacto. Com a mesma pintura, exatamente no mesmo sítio. E, quando o abro, vejo. Vejo a caneca, intacta. E a saqueta de chá. 
Tudo parecia tão perfeito, tão normal! Mas não era nada disso. Não era mesmo. Aquela situação era tudo, menos normal. E chorei, chorei ainda mais. As minhas pernas começaram a tremer, a cabeça a andar à roda - e ajoelhei-me. Em contacto com a fria e velha madeira, lembrei-me. 
Unimos os nossos dedos mindinhos, em sinal de promessa. Sorriste para mim, eu sorri para ti. E o Chá acabou por entornar. Sorris - já estava quase no fim, para quê dramatizar? - A realidade, é que sempre foste assim. Prática. E, principalmente, muito agarrada às tuas coisas. Amo-te.
Lembro-me da nossa promessa, enquanto bebias o teu chá e lias o teu livro, e eu passava a maior parte do tempo a olhar para ti. Lembro-me quando quase sufocámos quando tentámos fazer uma fogueira e improvisar uma lareira, para nos aquecer dos frios de Inverno e das correntes de ar. Mas só agora percebi que o fogo não era nada. Porque tu aquecias-me o coração, a mente e a alma. Só precisava de ti para perceber, verdadeiramente, o que era a amizade. Eu queria uma amizade que me consumisse, como o fogo consume lenha.
E eu amava-te tanto! E ainda continuo a amar. E amar-te-ei para sempre, até que a minha última força se esgote. Afinal, a promessa ficou por ali. Eu deixei-te ir. Talvez porque te quisesse libertar, precisavas de seguir em frente. Precisavas de alguém melhor que eu. E eu libertei-te, porque te amo, eternamente.
E quando acordei ali, ajoelhada na madeira, percebi que tudo mudara, incluindo eu. 

21/07/2012

veneno


Preciso de gritar. E quero que me deixes gritar. Quero-me desfazer em mil pedaços, em mil pedaços pequenos, que cortam como o vidro, e brilham como o espelho da Rainha Má, da Branca de Neve. Quero chorar, quero que as minhas lágrimas se cravem no teu coração como mil punhais, quero que tenhas tanto medo de mim como de um vampiro tem de estacas de madeira. Não sei se isto é sentir algo, mas que me dói o peito dói. Dói-me de esperar, dói-me de existir. Ao longo dos anos, conservei a minha existência numa caixinha de madeira. Sabes onde guardava a chave? No meu coração. Mas ele explodiu, e a chave desapareceu. Infelizmente, alguém a encontrou e abriu a minha caixinha de madeira - a minha alma desapareceu. Ganhou asas e desapareceu. Uniu-se com outra alma qualquer - já estava na hora de ela voar.
E fiquei sozinha. Só com o coração. Mas sem alma. O meu peito estava cada vez mais vazio e um nó na minha garganta começara a formar-se - apetecia-me vomitar. Vomitar até que o coração me saísse pela boca, seguido dos pulmões e de todo o vestígio de ti, dentro de mim. Mas, por outro lado, queria que fosses minha. Só minha. Não devias ser amiga de mais ninguém, só minha.
Vês, a criatura egoísta em que me tornei?! Só me importo comigo, com os meus próprios sentimentos. Se estiver bem, não quero saber. Mas se estiver mal, aí sim, sinto a dor, a palpitar, cá dentro, como se de um trampolim se tratasse. Mas, naquele dia, fizeste uma boa ação. Arranjaste um estratagema. O da maçã, sabes. Aquele, a que somos habituados desde crianças. É fácil, muito fácil. Basta encheres um caldeirão com os teus olhos, com o teu amor, com as tuas lágrimas, o teu maior sorriso, basta pores lá um bocadinho de ti, o mais pequeno que seja, e eu rendo-me. Trinco a maçã e caio no chão desamparada. Sozinha. Para um sono eterno, um sono sem reviravolta, onde tudo o que vemos é escuro e frio, morto e gelado. Queres saber outra coisa interessante? Nesta história, os 7 Anões não existem. Muito menos o princípe encantado. Eras minha, estivesse eu viva ou morta, tinhas de ser minha! Abro os olhos. Vejo-te ali, a olhares para mim. Sussuras, foi o melhor para ti.
Começo a asfixiar, aos poucos, com o teu cheiro; o teu belo sorriso, que anteriormente fora meu, queima-me os lábios; as tuas lágrimas assomam nos meus olhos e, minha Rosa, pela derradeira e última vez, o teu amor, esse, faz com que o meu coração dê a sua última e derradeira batida - morto, frio, gelado, envenenado.